Um dos problemas enfrentados hoje
pelas populações da Amazônia são os grandes projetos, que além de causarem
grande impacto ao meio ambiente, geram lucros para alguns e provocam inúmeros impactos
sociais negativos nas cidades onde estão instalados. Esse foi o assunto
principal da primeira coletiva oficial concedida à imprensa na tarde desta
terça-feira, 03, no Seminário São Pio X, como parte do 10º encontro dos bispos
da Amazônia, que está sendo realizado em Santarém-PA.
A entrevista foi concedida por
Dom Jesus Maria Berdonces, bispo da prelazia de Cametá e presidente do Regional
Norte 2; Dom Mosé João Pontelo, bispo da Diocese de Cruzeiro do Sul e
presidente do regional Noroeste; Dom Roque Paloschi, bispo da Diocese de
Roraima e presidente do Regional Norte 1 e Monsenhor Raimundo Possidônio, coordenador
de Pastoral da Arquidiocese de Belém e historiador.
Dom Jesus Maria Berdonces afirmou
que a Amazônia é tida até hoje como uma colônia, aonde as pessoas vêm, pegam a
matéria prima, enriquecem e vão embora. “Esse é um modelo capitalista pautado
pelo governo para a Amazônia, que não leva em conta o povo que aqui mora. Para
eles, o povo é apenas um detalhe, que atrapalha o desenvolvimento, ressalta”.
Ele destacou que existe outro modelo
defendido pela Igreja, cujo foco são os povos que estão na Amazônia. “A igreja
defende o incentivo à agricultura familiar, defende que os lucros das riquezas
(minerais e vegetais) sejam deixados na Amazônia, e que os povos sejam ouvidos”.
Já Dom Roque Paloschi destacou
que a questão é saber quem está usufruindo dos lucros desses grandes projetos,
que além de terem as bênçãos do governo, são financiados com o dinheiro
público. Ele ressalta que as populações não têm garantias, e suas terras quase
sempre são “abocanhadas” pelo agronegócio e por grupos econômicos que aqui chegam.
Dom Roque defende o respeito à
biodiversidade, a participação de homens e mulheres amazônidas, que possuem a sabedoria
milenar e tradicional de cuidar do meio ambiente sem agredi-lo. Ele espera que
o encontro de Santarém provoque uma verdadeira reflexão. “Nós esperamos
contribuir para que uma reflexão aconteça para que nossas comunidades se tornem
sujeitos dessa região e não apenas vista como um entrave no processo do
desenvolvimento sonhado pelo agronegócio e pelo governo”, enfatiza.
Dom Mosé João Pontelo afirma que
os problemas estão aí, e isso requer responsabilidade dos pastores, que são
lideres dessa igreja. E o encontro de Santarém vai apontar qual será o caminho
a ser seguido nos próximos cinco anos.
Dom Jesus Maria acredita que os bispos
têm a obrigação de tentar iluminar a caminhada com a Palavra de Deus, mas
também assumir o desafio e o povo da Amazônia. “É necessário não fugirmos da
cruz de nosso Senhor, que é a cruz dos pobres e dos povos desta região”,
finalizou.
O 10º encontro dos bispos terá um
documento conclusivo e uma carta encaminhada aos governantes dos Estados da
Amazônia, outra ao Povo de Deus e uma ao Papa Bento XVI.
Joelma Viana e Ercio Santos
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